Centro de Arte Contemporânea Graça Morais: 'As três faces de Cutileiro'


Mostra em Bragança com escultura, desenho e fotografia

GLÓRIA LOPES

Abre hoje ao público, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, uma exposição de João Cutileiro, que abarca três das linguagens usadas pelo artista, concretamente a escultura, o desenho e a fotografia.

Mal se transpõe a porta de entrada daquele centro de arte, surgem dois poderosos guerreiros, erguidos peça a peça depois de cinzelados no mármore pequenos paralelepípedos. A escultura é o grande sinal distintivo de João Cutileiro, mas é a fotografia que marca a diferença desta exposição, por se tratar de uma expressão menos divulgada na obra do artista.

A fotografia surgiu cedo na carreira do escultor, contudo, teve períodos de menos regularidade do que as outras duas, e, sobretudo, teve menos divulgação, por ter estado mais afastada do percurso expositivo.

O rés-do-chão do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais recebe cerca de 30 fotografias, retiradas das paredes da casa do escultor, que constituem apenas uma pequena parte da vasta produção de retratos que produziu ao longo da vida, do qual se destacam os de figuras gradas das artes e letras, como os pintores Vieira da Silva e Arpad Szenes, a escritora nobelizada Doris Lessin, o escultor Rui Chaves, a artista plástica Fernanda Fragateiro ou a actriz Maria do Céu Guerra.

Há muitos mais para ver. Esta série de retratos foi apresentada pela primeira vez em 1961, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, também em conjunto com a escultura e o desenho, tal como em Bragança.

A exposição foi comissariada por José Alberto e Jorge Costa, director do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, que explicou que a maior preocupação foi "mostrar" o trabalho fotográfico de João Cutileiro. "A fotografia sempre acompanhou o trabalho dele, desde cedo. Aliás, ele sempre procurou formas que acelerassem o processo criativo, mesmo na escultura, e a fotografia permite-lhe isso mesmo", referiu Jorge Costa.

Trata-se de um trabalho que poucas vezes foi mostrado, apesar das centenas de exposições que o escultor fez ao longo da carreira.

Esta é a quarta ou quinta vez que as fotografias são apresentadas publicamente. Mantém-se como uma faceta do artista quase desconhecida pelo grande público. "Esta exposição é extraordinária também por isso", acrescentou o director do centro de arte brigantino.

Apesar de ser um registo menos imediato do que a fotografia, os desenhos que fazem parte desta exposição de Cutileiro eternizam uma série de instantes eróticos femininos, uma espécie de citações evocativas dos traços da Olympias de Manet ou da Vénus de Boticelli.

Estes desenhos ocupam as paredes da bela sala do primeiro andar, que nasceu do traço do arquitecto Souto Moura. Também ali está patente a escultura talhada em blocos de mármore de tons rosados, que denunciam os distintos graus de acabamento de cada uma. Mais polidas umas, outras revelando as imperfeições da pedra e as marcas dos cortes feitos pela rebarbadora. Pássaros, peixes, figuras humanas e árvores são os temas predominantes.

A exposição mantém-se patente até ao dia 10 de Janeiro.

in Jornal de Notícias


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