Terra Quente - Terra Fria · Desenho e pintura 1978 /2002



GRAÇA MORAIS
TERRA QUENTE - TERRA FRIA
Desenho e pintura 1978 /2002
30 de setembro de 2011 a 8 de janeiro de 2012


Todo o ecletismo de referentes, persistentemente reivindicados na produção artística de Graça Morais, de que vem resultando uma pungente e singular iconografia, tem apensa a pertença de lugar.
Transfigurado ou metamorfoseado através da distorção e da sobreposição das formas, capazes de desencadear distintos níveis de leitura ou, não raras vezes, inscrito pelas linhas mínimas do desenho, o universo telúrico e antigo que representa e com o qual vem estabelecendo um diálogo pronunciado e aberto é, como a vontade de o perpetuar, eixo axial do seu trabalho.
Rostos e gestos, objetos e animais, rituais de inverno e cenas de trabalho, tramas narrativas de sacralidade e de morte acusam as marcas de uma obra que, não obstante a variação de estratégias formais e até dos inesperados processos materiais que mobiliza, não abdica do real como referência, que aqui é feito de terra e de mistérios ancestrais, e tem profunda ligação à memória e aos afetos.
A escala cronológica da exposição é ampla, reunindo obras de 1978, da emblemática série “O Rosto e os Frutos”, aos primeiros anos do século XXI, permitindo nas sucessivas inflexões, especialmente no domínio do desenho, o encontro com uma grande variação de temas e estilísticas já tratados por Graça Morais.
Da obra chega-nos, inteira, a imagem da região transmontana, mas distanciada da redutora visão folclorista. A essência está lá: os rituais, as tropelias dos caretos, a solenidade e a bruteza da matança do porco ou a imolação do cordeiro na Páscoa, a dureza das segadas, a caça, as festividades religiosas, o tempo quente das cerejas ou das neblinas invernais, os utensílios de trabalho, as mulheres, a passagem das estações e dos dias, mas chega até nós filtrada pela visão pessoalizada da artista e pela subjetividade das interrogações que é capaz de convocar a partir das inesperadas associações e figurações que nelas adita.
A condição da sua prática pictórica não está, por isso, tanto no registo do pitoresco ou na captação sob ponto de vista etnográfico para memória futura, está antes na exploração de um universo e de um imaginário e no modo como explana, com grande sinceridade pictórica, o que observa, do mesmo modo que lhe subtrai a redutora referência naturalista.
Como os temas, também a escolha dos suportes nunca foi secundário em Graça Morais, ao procurar neles uma plasticidade profícua, capaz até de redefinir a própria obra. Os materiais não funcionam apenas como meros ou ocasionais suportes para as imagens que sobre eles projeta, antes explora continuamente outras texturas, como as grandes lonas de serapilheira, apetrechos de trabalho utilizados em tempos idos na colheita da azeitona, cujas marcas do uso são ainda visíveis e inteiramente assumidas pela composição. Na série “Jorge”, assim titulada pela importância excecional que aí é dada à figura masculina, sobressai o domínio do traço a carvão. O campo semântico é dominado pelas expressões e gestos desajeitados de uma figura que suspende pelas patas uma ave, uma cena que se repete em três lonas com algumas variações, como os desenhos detalhados de ancestrais instrumentos de trabalho com os quais, aparentemente, não parece existir qualquer relação.
É precisamente o modo como formaliza este universo que sai reforçada a singularidade do trabalho de Graça Morais, único “a impor uma linguagem de persistente descoberta e uma figuração que se distingue de qualquer outra pelo que alcança em identidade”, como chegou a referir Fernando de Azevedo.
Terra Quente - Terra Fria convoca, assim, na sua essência, a um encontro com o Trás-os-Montes de Graça Morais, onde cada obra é metáfora pictórica da interpretação e, simultaneamente, da reflexão que, a partir deste território antigo em iminente desagregação, a artista faz do mundo.

                                                                                                                         Jorge da Costa



Comissariado: Jorge da Costa (director do CACGM)
Produção: Centro de Arte Contemporânea Graça Morais / Câmara Municipal de Bragança



Centro de Arte Contemporânea Graça Morais                                        Tel: (351) 273 302 410
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Terra Quente – Terra Fria é um percurso a Trás-os-Montes através da obra de Graça Morais. Um percurso que vive do seu olhar, das suas memórias, da forma como tacteia as pessoas, paisagens, sensações e lhes dá corpo através do seu traço e da sua pintura.

Com um elenco de actores e bailarinos procura-se que este projecto seja um mergulho ao interior dos temas abordados por Graça Morais e que nos transportem ao pulsar da vida, dos rituais e das paisagens transmontanas.

Teatro Municipal de Bragança 30 de Setembro e 1 de Outubro
Auditório ACE Teatro do Bolhão 11 a 23 de Outubro ( de Quinta a Sábado 21:30 e Domingos ás 16:00
Teatro de Vila Real dia 28 de Outubro


Peça de dança contemporânea criada pela coreógrafa Joana Providência a partir da obra de Graça Morais

Mais informação em Teatro do Bolhão



Recortes de imprensa (online):

Uma viagem a Trás-os-Montes através de Graça Morais, Diário de Notícias, 30 de Setembro 2011

“Terra Quente Terra Fria” a nova exposição de Graça Morais, welcome nordeste.pt, 3 Outubro 2011

Viagem a Trás-os-Montes através de Graça Morais, Tribuna do Douro, 3 Outubro 2011

Vídeo Reportagem via Local Visão, 2 Outubro 2011


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