Graça Morais no Centro de Arte Manuel de Brito
Inauguração de exposição hoje, às 18:30, 28 de Maio 2010
O Centro de Arte Manuel de Brito mostra, em 68 obras, duas décadas do percurso criativo da artista.
"Oh, olha estes desenhos, já não me lembrava deles. E este aqui é um auto-retrato meu, com a minha mãe e os nossos segredos tão íntimos. Nunca devia ter deixado de ficar com ele", vai dizendo a pintora Graça Morais, enquanto circula pelas salas do Centro de Arte Manuel de Brito (CAMB), em Algés, onde é hoje inaugurada uma exposição que reúne 68 obras suas. As obras, pinturas e desenhos, pertencem à colecção de Manuel de Brito, o coleccionador e fundador da Galeria 111, que desde os anos 80 se interessou pelo trabalho de Graça Morais e o integrou na sua colecção.
"Eu era uma artista de 35 anos, praticamente desconhecida, e ele decidiu apostar em mim, tal como noutros artistas jovens, mostrando uma grande capacidade de risco, mas também uma grande sensibilidade", lembra a pintora.
Esta iniciativa insere-se na linha programática do CAMB, que, desde 2005, tem vindo a mostrar as obras de artistas que compõem o seu acervo, começando nos mais velhos. "Com a exposição de Graça Morais concluímos a exibição das obras mais emblemáticas que constituem a colecção do centro", explica Arlete Alves da Silva, responsável pela instituição e viúva de Manuel de Brito.
Conhecer um pouco do percurso e das geografias mutantes de Graça Morais é um dos objectivos desta exposição, que dá a ver um conjunto de obras representativas das várias fases de um trabalho criativo que a própria considera "estar em constante transformação, pois nasce das minhas próprias vivências".
O facto de haver, nesta mostra, trabalhos que raramente foram vistos em público é um dos aspectos que a artista considera mais relevantes. "É isso que vai permitir ao público descobrir outras facetas do meu trabalho."
"Na Cabeça de Uma Mulher Está a História de Uma Aldeia" é o título de uma série de imagens criadas por Graça Morais sobre a sua aldeia natal (Vieiro, em Trás-os-Montes), e é também o nome que a sua filha, Joana Morais, deu a um documentário que realizou sobre a vida e obra da pintora. O filme, que faz parte da mostra, é "um retrato muito fiel daquilo que eu sou, de como penso e de como crio", assume.
Apesar de ser sempre essa mulher da aldeia transmontana, "lugar da sua infância e da sua mitologia pessoal", onde não cessa de regressar, quer no seu trabalho quer na sua vida, Graça Morais não deixou de empreender outras viagens por geografias físicas e espirituais mais distantes. Essas caminhadas transformou-as, depois, em imagens: a sua passagem pelo Japão, os dois anos em que percorreu as ilhas de Cabo Verde, os desenhos eróticos que expôs em Granada, um sobre a caça realizado em finais de 1979 em Paris, desenhos de gafanhotos feitos a sépia com a técnica do pincel japonês, um quadro pintado em 1982, quando voltou à aldeia de Vieiro e no qual introduziu excertos de Guernica de Picasso, ou quadros da série "Geografia do Sagrado", em que aborda a sua relação com a religião, são apenas alguns exemplos do muito que pode ser visto no CAMB, até 16 de Setembro.
"Não se pode esperar encontrar uma continuidade naquilo que faço", afirma ainda a artista. Essa descontinuidade é, no entanto, atravessada por temáticas comuns como a relação entre o sagrado e o profano, os mitos ligados à natureza e à relação humana com o divino.
De entre as imagens criadas por Graça Morais que podem ser vistas nesta exibição, a pintora destaca uma: o quadro feito em Cabo Verde que retrata, em cores fortes e linhas impressivas, uma mulher e uma cobra.
in DN 28.05.2010 [por Joana Emídio Marques]
mini-promo CAMB
Palácio Anjos Algés - Alameda Hermano Patrone, 1495-064 Algés
Tel. 21 4111400 -camb@cm-oeiras.pt
Documentário em permanência na exposição
‘Graça Morais – Na Cabeça de uma Mulher está a História de uma Aldeia’ é um documentário biográfico e intimista sobre Graça Morais realizado pela filha Joana. Tem por base uma série de conversas ocorridas com a artista na sua aldeia natal, Vieiro, Trás-os-Montes. Esta viagem com Graça Morais pelas suas memórias permite descobrir como o percurso vivencial e artístico da pintora transmontana se relacionam e oferecem uma perspectiva fascinante sobre a sua personalidade e imaginário, a sua relação de autenticidade com o mundo rural e citadino e o resultado dalgumas etapas temáticas na obra de Graça Morais.
Documentário sobre a vida e obra de Graça Morais
Realização, Produção e Edição Joana Morais
Portugal/Itália 1999/2000 33 minutos - Cor PAL 4:3
intriguing....
ResponderEliminarJá vi este documentário em duas exposições da artista. Sou professor e gostaria de saber se existe a possibilidade de o adquirir e onde?
ResponderEliminarOlá caro Professor 'anónimo', não existe de momento a possibilidade de o adquirir (comprar). No entanto entre em contacto comigo (para joanammorais at gmail dot com) e explique-me qual é o seu interesse; se for de cariz profissional e com o propósito de dar uma aula sobre a pintora, a sua obra, etc terei o maior prazer em disponibilizar-lhe uma cópia (grátis) em DVD do documentário.
ResponderEliminaros meus cumprimentos, Joana Morais
Boa noite, o meu nome é Sílvia Longle, sou professora de Desenho, de uma turma de 10º ano e pretendo participar no Concurso. Estive presente na apresentação realizada na Casa Fernando Pessoa, onde tive o prazer de conhecer pessoalmente Graça Morais. Um prazer ouvi-la, tal como observar o seu trabalho...
ResponderEliminarO filme que é referido é sem dúvida um excelente ponto de partida para o trabalho dos alunos, sobretudo por ser possível abordar a questão do processo criativo. Por este facto, e ao ler a resposta da Joana ao comentário do professor 'anónimo', gostava de lhe pedir uma cópia do documentário, compromentendo-me desde já a utilizá-lo apenas em sala de aula.
ficando a aguardar uma resposta...
Sílvia Longle
Escola Secundária da Ramada