Graça Morais, Pinturas e Desenhos 2008 na Galeria do JN - Porto



Oito telas a óleo e 23 desenhos criados no último Verão, em Trás-os-Montes, constituem a mostra que Graça Morais expõe na Galeria JN, no Porto. Trabalho resulta de uma reflexão sobre o quotidiano das pessoas que rodeiam a pintora.

A entrada é livre. Aberta ao público até 14 de Dezembro.


Edifício JN, R. Gonçalo Cristóvão, 195 4049-011 Porto. Horário: 2ª a 6ª feira, das 12,30h às 19,30h / Sábados, Domingos e Feriados das 15h às 20,00h segunda a sexta, das 12h30 ás 19h30 sábados, domingos e feriados das 15h às 20h

Artigos de Imprensa

JN: Galeria de fotos Inauguração

JN: Graça Morais inaugurou exposição na Galeria JN

JN: Galeria JN - Graça Morais, Pinturas e Desenhos 2008

JN: Graça Morais: "É necessário resistir"

Respiração suspensa por Manuel António Pina



Respiração suspensa

"Não é sem um tremor que o homem ousa olhar um rosto, pois este existe, antes de tudo, para ser olhado por Deus". Max Picard, Le visage humain

Portas para o invisível, os rostos que nos olham nestas pinturas, mesmo quando os seus olhos nos evitam ou nos ignoram, fecham-nos algo irremediável e inominável. Mais do que rostos, são antes máscaras, "êxtases imóveis" em que se inscrevem mundos interiores onde não nos é dado alcançar. Também a pintura é uma máscara, e também ela desamparada. Também ela, quando desvela, oculta. Porque a pintura vê mas não sabe (e como poderia ela saber?).

A pintura de Graça Morais sempre perscrutou rostos, a sua linguagem silenciosa. Como nenhuma outra pintura portuguesa contemporânea, o acto de pintar é, em Graça Morais, fundamentalmente um acto de paciente amor, pois que, como escreve Max Picard, "só na atmosfera do amor um rosto humano se conserva como Deus o criou, como imagem sua". Que esses rostos sejam obsessivamente rostos de mulheres permite talvez (mas que sei eu?) vislumbrar o sentido inquieto da sua pintura, re-ligando (pois suspeito que há por aqui algo de fundamente religioso) anima e espírito, sentimento e razão, tempo e eternidade, existência e transcendência.

Um grande luto (sob todas as suas formas, as da morte como as da vida), uma dor muda, cobrem agora como um véu rostos macerados pela usura dos dias. Mesmo os olhos, singularmente poupados, nos desenhos, à brutalidade gestual da pintura, olham cegamente para dentro, mais do que para fora e, se nos fitam, parecem ver para lá de nós. A pintura de Graça Morais é aqui, provavelmente mais do que nunca (repito: mas que sei eu?), uma arte de silêncios, de lábios fechados, do pudor da palavra dita. Num dos quadros, uma mão tapa a boca reprimindo um grito; noutro, um ramo de flores protege um segredo apenas murmurado; noutro ainda, as flores ocultam inutilmente a evidência da morte. As próprias cores (castanhos, rubros, negros), densas e sólidas, às vezes expressionistas, como, do mesmo modo, a matéria simbólica presente na decomposição e metamorfose dos corpos, parecem querer obstar a qualquer ruído (há quem julgue que a pintura não tem som, mas o que há mais para aí é pintura barulhenta) de representação para além do processo figurativo.

Porque também a pintura é usura. Também ela, pelo menos esta, olha para dentro de si. E o que vê, suspendendo a respiração, é tempo, memória (incluindo, inevitavelmente, a memória da própria pintura), murmúrios, fragmentos. Do lado de lá da morte, a Eternidade (não aparece ela paradamente a Daniel sob a forma de velho?) deve ser, acho eu, assim.

Porto, 24/09/08
Manuel António Pina

in Catálogo " Graça Morais, Pinturas e Desenhos 2008"

Graça Morais: "É necessário resistir" por Agostinho Santos

Oito telas a óleo e 23 desenhos criados no Verão passado, em Trás-os-Montes, constituem a mostra a inaugurar hoje, às 18.30 horas, na Galeria do Jornal de Notícias, no Porto. Trabalho resulta da reflexão sobre o quotidiano das pessoas que rodeiam a pintora


No Verão passado, Graça Morais não teve descanso. Refugiou-se no silêncio do seu ateliê de Trás-os-Montes e, de manhã à noite, trabalhou, concebendo um conjunto de pinturas e desenhos que corporizam, de novo, os corpos das mulheres da sua região e, principalmente, o rosto esguio, belo, da sua mãe, Alda, que simboliza, na obra da artista, a Terra.

Corresponde mesmo, segundo confidenciou a pintora nesta entrevista, ao "espelho de uma personalidade intensa, própria da identidade feminina da minha região".

Graça Morais: "É necessário resistir"

O resultado deste intenso, quase obsessivo, diálogo entre Graça Morais, as telas, os papéis, os óleos e os pastéis é a exposição que inaugura hoje, às 18.30 horas, na Galeria do Jornal de Notícias, no Porto. São trabalhos recentes que proporcionam uma perspectiva rigorosa sobre a obra daquela que é considerada uma das maiores pintoras portuguesas, que garante que "é necessário resistir e insistir com coragem, porque vivo num país com um espaço físico mental e económico muito reduzido". A mostra está patente até 14 de Dezembro.

Em que consiste esta exposição? Que temas privilegia?

Esta exposição é constituida por oito telas a óleo e 23 desenhos sobre papel. Foram realizados no meu ateliê de Trás-os-Montes e resultam de uma reflexão sobre o quotidiano das pessoas que me rodeiam, associando imagens que recolho dos média com objectos e formas da natureza.


A mulher rural ainda surge como protagonista na sua obra. Porquê? Qual a mensagem?

Estes quadros são representações de rostos humanos, máscaras que pertencem ao mundo da montanha e que vivem numa luta diária com uma paisagem rude e harmoniosa.

A sua mãe é um dos seus modelos mais frequentes. Porquê?

A minha mãe simboliza a Terra. Sinto uma grande identificação com o seu rosto, espelho de uma personalidade intensa, própria da identidade feminina da minha região.

Cria, muitas vezes, uma espécie de metamorfose entre mulher e bichos, nomeadamente gafanhotos e pássaros. Qual a relação?

Neste lugar, cohabitam, numa profunda simbiose, animais e homens. A metamorfose entre a mulher e as formas animais é sempre o resultado da transformação da matéria, está associada à memória e ao tempo.

A sua linguagem mais fiel é o desenho ou a pintura? Com qual se sente melhor, ou seja, mais autêntica?

Sinto uma relação muito profunda e imediata com o desenho. Rabiscar é encontrar imagens, é encontrar-me num jogo de descoberta, de grandes surpresas.


Como surgem os temas no seu trabalho? A guerra e a violência já foram tratadas na sua obra. Tratou-as, essencialmente, como forma de denúncia?

Estou atenta a tudo o que se passa à minha volta, seja no meu pequeno mundo, seja no planeta que habitamos e a minha pintura resulta de imagens fragmentadas dessa realidade.

A sua relação com Trás-os-Montes mantém-se? É uma relação umbilical?

Pertenço a este lugar, que, desde a infância, me marcou profundamente. Aqui, aprendi a andar, a falar, a cantar, a rezar e as primeiras letras. Também aqui comecei a despertar para o desenho. Mantenho uma relação de grande identificação com este território geográfico e afectivo.

O silêncio, o recolhimento parecem ser muito importantes, talvez fundamentais, no seu momento de criação. Porquê?

É fundamental para mim trabalhar num ambiente de silêncio e absoluta concentração na minha pintura. Nesta fase da minha actividade criativa, ter tempo e silêncio são luxos pelos quais luto com persistência.


Ser mulher/artista em Portugal é complicado nos dias de hoje?

É complicado ser artista, seja mulher ou homem. É necessário resistir e insistir com coragem, porque vivo num país com um espaço físico mental e económico muito reduzido.

O que esteve na origem da criação do Centro de Arte Graça Morais, em Bragança? Está satisfeita com os resultados/adesão do público obtidos nos primeiros meses de existência?

O Centro de Arte Contemporânea recebeu o meu nome por proposta do presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes, que foi aceite em Assembleia Municipal por unanimidade. Este centro dá resposta a uma política de desenvolvimento cultural sustentável, num projecto transfronteiriço entre as cidades de Bragança e de Zamora. O êxito de público e visitantes nacionais e estrangeiros ultrapassou as expectativas mais optimistas.

Que conselhos dá aos jovens criadores?

Não dou conselhos, sugiro que desenvolvam os seus talentos inatos com muito estudo e perseverança no trabalho.

A crise afecta a arte?

Qual crise? A dos valores éticos? Nas crises económicas do passado, desenvolveram-se interessantes perspectivas de mercado, sendo as obras de arte um valor seguro de investimento.

Em termos futuros, tem já alguns projectos de trabalho?

Não gosto de falar publicamente dos meus projectos antes da sua concretização.

Como encara a questão da morte? Tem medo de morrer?

A morte é inevitável, é uma senhora que não convido para jantar !


Fonte: JN

Graça Morais na Fundação Júlio Resende - Lugar do Desenho

Graça Morais
Desenhos do Mar e da Terra |1983 - 2007


Quando se anuncia uma exposição de Graça Morais nunca se trata de mais uma exposição. É precisamente o caso presente. A artista cultiva o confronto com uma naturalidade surpreendente. Imparável na busca da Verdade mais Verdadeira, é no panorama da arte portuguesa um caso paradigmático de robusta determinação em avançar sem cedências a um mundo desacreditado pela manipulação de objectivos nem sempre compreensíveis. O desenho é sempre um sinal da verdade resultado de complexas forças do instinto para um significado de linguagem. Graça Morais está no lugar certo, estando no Lugar do Desenho.

Resende



Desenhos do Mar e da Terra

“Vale a pena viver porque o Mundo, apesar de tudo,
apesar de todos os seus problemas, é um dom extraordinário(…)”
Sophia de Mello Breyner Andresen


Estes desenhos sobre tela, lona e papel resultam de uma viagem por territórios situados na Terra e no Mar.

São desenhos feitos num ambiente de grande recolhimento, de muito silêncio, de uma absoluta atenção às pessoas, aos objectos e a diversas formas da natureza. É com grande satisfação que junto pedaços de um grande puzzle que venho a construir com teimosia e dedicação ao longo de muitos anos. Ainda bem que posso vê-los neste espaço, Lugar do Desenho, um sítio cheio de significado e de enorme importância onde podemos ver, estudar e admirar a Obra do Mestre Júlio Resende. Cabe-me a Sorte de partilhar com o Mestre este lugar graças à sua generosidade e amável convite.

Júlio Resende foi o meu primeiro Mestre. Recordo-o nos finais dos anos sessenta, na sala de aula de Pintura da Escola de Belas Artes do Porto fumando o seu aromático cachimbo, olhando atentamente os quadros dos seus alunos. Lembro-me como ele se sentia pouco à-vontade quando tinha de dar opinião sobre a minha desajeitada pintura – o desconhecimento era grande mas o desejo e a determinação era superior. Um dia o Mestre visitou a aula de desenho do Professor Tito Reboredo, viu os meus desenhos e admirado perguntou-me porque é que eu lá em cima, na aula de pintura, não pintava como desenhava. Eu respondi porque não sabia e não era capaz de o fazer.

A verdade é que cheguei e chego ao Desenho mais depressa do que à Pintura. Desenho como respiro, numa relação simples, directa e emotiva com o papel. A Pintura coloca-me maiores dúvidas, cria em mim grandes angústias e inquietações. Com esta exposição pretendo mostrar a minha admiração pelo Pintor Júlio Resende, pela sua integridade e sabedoria como Homem e Artista.

Graça Morais




Exposição com a colaboração do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais - Bragança

LUGAR DO DESENHO | FUNDAÇÃO JÚLIO RESENDE
Rua Pintor Júlio Resende, 346 4420-534 Valbom Gondomar Portugal Tel. +351 224 649 061/ 2 Fax +351 224 630 325 www.lugardodesenho.org e-mail: info@lugardodesenho.org | 25 OUT 2008 - 03 DEZ 2008