O Rosto do Medo



Por Sílvia Souto Cunha

Pinturas, desenhos, trabalhos em azulejo, contaminados pela realidade que todos contemplamos diariamente em jornais e televisões, eis a produção recente de Graça Morais, agora apresentada numa galeria cúmplice.

Guerras, refugiados, incerteza, violências várias, uma espécie de realidade expressionista, por assim dizer, são os temas com que a pintora se confrontou, assumindo uma postura cívica de não virar a cara - que, adivinha-se, estende até à folha de papel.

Veja-se o perturbador desenho a tinta da china, datado já deste ano, em que uma mulher tapa um dos olhos mas continua a ver a violência exercida por uma figura masculina, manápula em torno de uma ave indefesa.

A exposição O Rosto do Medo apresenta-se como um quase- manifesto, “um apelo à força e energia do Homem perante todos os desafios”. A mensagem é passada através de sete desenhos de pequena dimensão,11 pinturas (alternando acrílico, pastel, tinta-da-china, e carvão sobre papel) e ainda um conjunto de azulejos.

Em suma, todos os media familiares à artista, que não tem abdicado de uma visão lúcida sobre o mundo, mesmo quando este é observado a partir de geografias domésticas ou desses corpos de mulheres-medeias ou mulheres- -meninas. Entre a identidade mais chã e a desumanização contemporânea, a artista renova, aqui, a sua militância.

in Visão Nº1211 (suplemento), de 19 de Maio a 25 de Maio de 2016 (Edição em papel)

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